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Sábado, 10 de Maio de 2025
Paulinas - A comunicação a serviço da vida
Mensagem do dia 18 de dezembro
Estar de bem com a morte
Estar de bem com a morte
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Certamente, uma das realidades com a qual nos sentimos humanamente desconfortáveis, é a realidade inevitável da morte. A humanidade, em todos os tempos a revestiu com as mais contraditórias roupagens, desde as mais trágicas, até as mais serenas e elegantes. Tantos preferem não pensar nela, outros a afugentam com argumentos filosóficos e racionais. Muitos a encaram com revolta e indignação, outros tantos a veem como uma dimensão da própria vida, tendo consciência de que não há vida sem morte.

Para ir ficando de bem com a morte, nada melhor do que ir se dando bem com a vida. Quem está de bem com a vida não vive estremecido porque é mortal: sabe se ocupar de tal maneira com a vida e o que fazer dela, que não gasta energias e nem perde tempo em anular-se com a morte; anda de mãos dadas com a vida.

É normal dos humanos desejar o sucesso de seu viver. Porém, quanto mais o procuramos e o transformarmos num alvo, mais estamos sujeitos a nos equivocar. Quando somos movidos a este ímpeto, a realidade da morte é sempre uma ameaça. O sucesso da vida, como a felicidade, acontece como consequência de uma causa maior do que a pessoa, pela qual se investe tudo.

Quando as pessoas têm tudo, ou o suficiente para viver, e pouco ou nada porque viver, perde-se o sentido da vida e, mais ainda, da morte. Quando a vida tem sentido e a causa abraçada é maior, também o sofrimento e a morte necessariamente o terão. Aflições e morte fazem parte da existência humana. O que importa decisivamente é aprender e saber o que a vida espera de nós.

Deus espera que não o decepcionemos e que saibamos viver e morrer, não miseravelmente, mas com orgulho. O ser humano tem a capacidade de viver e até de morrer por seus ideais e valores. Uma das principais características da existência humana, está na capacidade de se elevar acima das condições biológicas, psicológicas e sociais e de crescer para além delas.

Na realidade, para poder dar-nos bem com a morte, necessitamos dar sempre o passo além do natural e perceber este recurso que nos é dado de transcender, sem deixar a realidade, onde nosso viver está plantado. A partir do futuro, a fé cristã nos ensina viver o presente. A partir da eternidade, somos chamados a administrar bem o que se passa no tempo da vida presente.

Em geral, o grande medo da morte se abate sobre nós, quando nela pensamos o fim do viver, quando achamos que terminou o caminho e nada mais temos a esperar.

Somos seres finitos, com desejos infinitos. Estes desejos que nos apontam horizontes sempre maiores e abertos, não podem ser entorpecidos por idolatrias fugazes. É de Deus que nós viemos, em Deus que nós vivemos e para ele que nós retornamos.

A experiência de Deus passa pelo aprendizado do melhor viver, do mais amar e do aprender a morrer com dignidade. Quanto mais nos abrirmos corajosamente na fé, mais nos tornamos dispostos a amar e a não morrer, mesmo que a morte nos colha de surpresa.

Frei Luiz Turra, ‘No Coração da Vida’, Programas Radiofônicos Vol. 01.