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Segunda-feira, 11 de Novembro de 2024
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Dica de Vida Saudável do dia 16 de agosto
O relógio do espírito
O relógio do espírito
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Aos 90 anos, Silvio Venturini leva a vida de um jovem idoso na cidade de Jaguariúna, no interior de São Paulo. Ele garante que a saúde está bem, principalmente a da mente. Tanto que, quando perguntado sobre o assunto, tem a resposta na ponta da língua: “O motor está bom. O que está ruim são os pneus”.

Viúvo há 13 anos, Silvio teve 13 filhos com Ignês Siste Venturini. Além disso, ele tem 28 netos, 31 bisnetos e 3 tataranetos. E Silvio garante que, geralmente, esbanja mais pique que os filhos. “Às vezes, eu os chateio porque eles são mais cansados do que eu. Eu e os meus filhos somos como irmãos.”

E mesmo com os “pneus” ruins, todos os meses Silvio tem presença confirmada no baile da terceira idade em sua cidade. Ele também não nega que gosta de namorar. “Eu tive só umas 40 namoradas”, brinca.

Silvio é o exemplo de quem lida com o processo de envelhecimento não como uma doença. Mesmo sem conhecer as muitas teorias sobre a velhice, ele busca integrar as várias dimensões da maturidade humana.

Como explica Elisandra Vilella Gasparetto Sé, mestra em Gerontologia, doutora em Linguística e professora universitária, o processo de envelhecimento possui três fases: social, biológica e psicológica.

“O envelhecimento social é como a sociedade enxerga o envelhecimento dentro de uma determinada cultura, enquanto o envelhecimento biológico está associado à duração da vida, o processo de maturação biológica da vida. Já o processo psicológico vai explicar mais em relação às vivências que o indivíduo tem ao longo da vida, pelos eventos da vida e pelo modo como vivencia esses eventos, emoções positivas e negativas”, afirma Elisandra.

Segundo a gerontóloga, não há uma idade certa para começar a envelhecer. “Cada pessoa terá uma idade cronológica, uma idade que a sociedade vai lhe impor e uma idade sentida pela própria pessoa.” Também cada cultura terá seu processo de envelhecimento, que leva em consideração a questão da idade, da saúde física e mental, genética. “Todos os fatores juntos explicam o processo de envelhecimento em uma determinada cultura”, acrescenta.

O envelhecimento é um processo bastante heterogêneo. Cada pessoa o vive a partir de suas circunstâncias. Pode acontecer que a maneira como uma pessoa enfrenta determinado evento na sua vida a torne positiva ou negativa. “A pessoa pode ter uma doença grave, mas ela consegue superar, ter uma estratégia de enfrentamento que faz com que sejam superados determinados obstáculos ao longo da vida”, esclarece Elisandra.

Há uma tendência de o idoso negar a velhice, pois as pessoas temem o fim da vida. Por isso, muitas vezes, se comporta de forma a não reconhecer que não está envelhecendo. Silvio lida bem com o envelhecimento, tem consciência de seus limites e não nega: “A gente também é meio teimoso”.

Mas Elisandra alerta que nem sempre o comportamento dos idosos é um sinal de negação da velhice. “Uma pessoa que já atingiu uma idade mais avançada muitas vezes preenche uma lacuna em sua vida realizando coisas que não teve a oportunidade de realizar antes. Não significa que ela está negando a velhice, mas que está fazendo coisas que antes não podia fazer e que hoje tem a oportunidade de fazer.”

O processo de negação deixa de ser saudável quando a pessoa nega totalmente a velhice. Assim como também há o oposto, quando a pessoa antecipa o processo de envelhecimento psicológico se socializando com a fase que ainda não está por vir.

Por Fernando Geronazzo/ Revista Família Cristã, edição 939.